Retrospectiva 2014

Esperei até o último dia do ano para fazer uma pequena retrospectiva do que aconteceu em 2014.
Pra ser sincera nem estou acreditando que hoje é dia 31 de dezembro e algumas partes do mundo já é 2015.
Ao pensar em 2014 terei um sentimento misturado, porque foi um ano cheio de lutas, muita solidão, tristeza, dor, medo. Mas também foi um ano em que aprendi muita coisa boa, cresci muito e vi muitos milagres acontecerem.
A maneira mais fácil e interessante de fazer um resumo do que aconteceu foi responder ao questionário abaixo, inspirado no post da Cintia contando como foi o ano dela.

  1.  O que você fez em 2014 que você nunca tinha feito antes? Fiquei internada em um hospital por uma semana
  2. Você manteve as suas resoluções de ano novo, e você fará novas resoluções para o próximo ano? Por motivos de forças maiores não pude manter as minhas resoluções para 2014, e vou sim fazer resoluções para 2015. Na verdade eu tento fazer um balanço da minha vida e ver em quais áreas preciso melhorar e traço objetivos e sonhos a serem conquistados
  3. Alguém próximo de você teve filhos? Sim, uma amiga.
  4.  Alguém próximo de você morreu? Não, graças a Deus.
  5. Quais países você visitou? Escócia e Brasil - Estava na Escócia no começo do ano e fui para o Brasil visitar a família no final de novembro.
  6. O que você gostaria de ter em 2015 que lhe faltou em 2014? SAÚDE!!
  7. Quais as datas de 2014 que ficarão em sua memória e por quê? 13 de janeiro, o dia que meu mundo entrou de cabeça pra baixo e 27 de agosto, aniversário de 4 anos de casamento
  8. Qual foi a sua maior realização neste ano? Manter disciplina para seguir dieta e fazer tudo o que estava ao meu alcance para salvar meus rins.
  9. Qual foi a sua maior falha? Falta de paciência
  10. Você teve alguma doença/sofreu acidente? Infelizmente sim, fui diagnosticada com Lupus
  11. Qual foi a melhor coisa que você comprou? Passagem de avião para a minha mãe passar uns dias aqui comigo
  12. Onde você gastou a maior parte do seu dinheiro? Pagando contas e poupando
  13. O que mais te deixou animada? A visita da família do meu marido no verão e a minha ida ao Brasil
  14. Qual música vai te fazer lembrar 2014? Let it gooooooooo! Let it goooo!!!! - ô praga de música que está em tudo quanto é lugar :-)
  15. Comparando com a mesma época no ano passado, você está:
    1. mais feliz ou mais triste? Mais feliz
    2. mais magra ou mais gorda? Mais gorda
    3. mais rica ou mais pobre? Mais rica
  16. O que você gostaria de ter feito mais? Gostaria de ter aproveitado melhor os dias em que me sentia bem e estar mais presente na vida das pessoas que eu amo
  17. O que você gostaria de ter feito menos? Gostaria de não ter desperdiçado precioso tempo chorando e me preocupando com pessoas que não se importavam comigo.
  18. Como você passou o seu Natal? Fui à praia de manhã com meu marido olhar o mar e ao retornar preparamos nosso jantar. Foi tranquilo em casa e eu agradeço a Deus por isto
  19. Qual foi o seu programa favorito? Estudio i, da Globo Internacional
  20. Quais foram os seus livros favoritos neste ano? Bíblia (serviu de consolo e conforto e meu guia) , "Você vai sair dessa" do Max Lucado (renovou minhas forças num momento muito difícil)  e os livros da série "44 Scotland Street" do Alexander McCall Smith (me fizeram rir e me fizeram uma boa companhia)
  21. Qual foi a sua música favorita neste ano? Apesar de escutar muita música este ano, não tenho como escolher uma música favorita.
  22. Qual foi o seu filme favorito este ano? Pay it forward (A corrente do bem) - não é um filme novo, mas eu nunca tinha assistido e a mensagem me tocou demais. The fault in our stars (A culpa é das estrelas) - a mensagem do filme é linda, devemos viver a vida intensamente e amar intensamente porque não sabemos o dia de amanhã como será.
  23. O que você fez no seu aniversário e quantos anos você completou? Completei 33 anos, eu fiz um bolo de chocolate com cobertura de beijinho e comi com muito gosto e à noite fui jantar com meu marido e alguns amigos.
  24. O que faria o seu ano imensuravelmente mais satisfatório? Se eu pudesse ter rido mais da vida e de mim mesma.
  25. O que a manteve sã? Deus, meu marido ( com todo amor, carinho e paciência) e amigos próximos que se mostraram mais próximos do que irmãos.
  26. Conte uma lição de vida preciosa aprendida em 2014. Foram tantas coisas aprendidas... a mais preciosas foram: ninguém vive neste mundo sozinho, é preciso ter humildade para pedir ajuda e aceitar ser ajudado. É difícil, mas é importante pedir perdão porque tira um peso de dentro do coração. A vida pode ser difícil, injusta, triste, solitária, tudo depende de como você a enxerga. É possível ter paz e alegria mesmo em meio às dificuldades e esta escolha só você pode fazer. Jesus é o bem mais precioso que eu tenho, o meu pilar, minha fonte de vida e a minha esperança para o futuro, sem Ele eu não sou absolutamente nada.
A todos um 2015 repleto de muita saúde e de muitas realizações e alegrias. E como eu li em algum lugar hoje, pra ter uma vida nova em 2015 é preciso mais do que mudar a folha do calendário, é preciso mudar as atitudes e semear coisas boas.

Os conflitos natalinos...

"It's the most wonderful time of the year!!!"... Se você mora pelas bandas de cá a esta altura do campeonato não consegue mais ouvir o refrão desta música natalina que toda sem parar, em várias versões diferentes no rádio, no shopping, no mercado, até mesmo no meio da rua... as músicas de Natal começam a ser tocadas nos rádios no dia depois do dia de Ação de Graças (este ano foi dia 27/novembro) e se eu não me engano páram no dia 26 de dezembro. - Graças a Deus a Simone não toca nas bandas de cá.
Mas será que este é realmente "a melhor época do ano"? Natal pra mim tem um grande significado porque eu sou cristã, mas isto fica meio perdido por aqui, afinal, a única coisa que o povo pensa é comprar. Comprar, comprar, comprar, comprar, comprar. Hoje a muito contra-gosto fui ao shopping devolver uma roupa que veio do tamanho errado e decidi ir às 10h da manhã, assim que o mesmo abrisse pois teria poucas pessoas. E qual foi a minha surpresa quando cheguei e o estacionamento estava lotado! Só descobri o motivo quando cheguei na porta do shopping e vi que esta semana ele abre as 8 HORAS DA MANHÃ! Pensa!
Mas não é sobre isto que queria falar neste post... acho interessante como as diferenças culturais aparecem nesta época do ano entre eu e o meu marido. Na maior parte das vezes a gente dá risada, mas tem horas que fico extremamente irritada e estressada quando chega esta época do ano.

PRESENTES
Bom, todo mundo gosta de ganhar presentes não é mesmo? E nesta época é comum a troca de presentes - ainda mais por aqui... o problema é que como você recebe o presente, você tem a OBRIGAÇÃO de dar presente também e todo ano rola o maior stress por conta disto. Acho que começa mesmo em novembro a minha sogra perguntando o que eu quero ganhar de presente de Natal. Acho bonito da parte dela querer me dar um presente, mas eu acho um saco ter que dizer pra pessoa o que quero ganhar... Alguns anos atrás eu estava de olho numa bota, num casaco, tudo bem, mas este ano eu simplesmente não quero/preciso de nada, acho que os 7 anos que já estou na família e o bom tempo que passamos juntas ultimamente daria idéia para ela comprar algo que eu goste, mas aí fica a pressão pra dizer algo que eu quero/goste. E o meu marido fica super aflito porque ele também me pergunta o que quero ganhar e eu digo que não precisa, não precisa e ele fica desesperado dizendo: "Não posso deixar minha esposa sem presente de Natal!!". O problema é que eles estão acostumados culturalmente a "pedir" presente. Primeiro para o Papai Noel, depois diz aos pais o que quer, assim ninguém ganha presente que não quer/gosta, o que é prático, ótimo, mas perde a graça... Só que aí entra o meu problema porque eu também sou obrigada a dar um presente pra sogra, pra cunhada, pros sobrinhos... porque eles me compram presente então preciso retribuir. Na minha família, presente de Natal era uma roupa nova e um brinquedo (e olhe lá) quando crianças. Depois que crescemos a gente comprava uma lembrancinha ou outra pra mãe e pronto. NInguém era obrigado a dar presente pra ninguém então eu acho este conceito bem estranho. Fora que ninguém merece pagar o dobro do valor do presente no envio do correio e torcer para chegar inteiro até o destinatário.

PAPAI NOEL
Meu marido cresceu acreditando em Papai Noel. Meus pais nunca me contaram a história do Papai Noel, via na televisão, nos desenhos, pra dizer a verdade acho que nenhum dos meus amiguinhos acreditava... achava legal a história, mas tinha coisas que nunca entravam na minha cabeça, como a entrega de presentes pela chaminé. Até aí tudo bem, os dois já estão bem crescidinhos pra saber que o bom velhinho não existe, mas os sobrinhos pequenos ainda acreditam. Detesto mentira e desculpa os defensores, mas pra mim história de Papai Noel é a primeira grande mentira que os pais contam para as crianças. E tem toda a enrolação de deixar as evidências de que ele passou na casa para deixar presente, a chantagem para o bom comportamento... Lembro-me que ano passado eu passei o Natal da casa deles e quase deixei escapar a verdade porque eu não estou acostumada a contar as histórias e tal. E olha, aqui entra a parte dos presentes e o motivo que a partir deste ano os meus sobrinhos vão ganhar dinheiro da nossa parte. Eu vi o MUNDO de brinquedos e coisas que eles ganham de Natal. O primeiro que eles abrem é o que o Papai Noel deixou, algo que eles pediram e lógico que ganharam porque se comportaram bem. O resto dos presentes... bem é apenas resto. Eu vi eles rasgarem com euforia presente atrás de presente, sem nem ao menos dar atenção o que era e quem deu. Veja bem, eles não são crianças mimadas, mas é assim que acontece quando se há muito ao mesmo tempo. E o presente que eu corri igual uma louca pra achar no shopping ficou lá no meio dos outros, fiquei sentindo meio chateada sabe? Pelo menos agora com o dinheiro eles tem o poder de economizar e comprar algo que querem, assim quem sabe dá um pouco mais de valor.

COMIDA
Esta parte é realmente interessante. A comida que pra mim representa Natal - além de Panetone, é claro, é salada de maionese. Não me pergunte porque mas quando era criança sempre achei que salada de maionese era comida que a gente só podia comer no Natal. Eu amo, amo, amo, amo, mais do que todo o resto do peru, do frango, dos doces. E o meu marido detesta. Odeia salada de batata normal e odeia azeitona. Então quando chega o Natal eu fico toda empolgada pra fazer salada de maionese, mas tenho que fazer só pra mim, porque ele não come.  Eles comem praticamente o que comemos na ceia, peru, purê de batata, salada de batata e os legumes cozinhos/assados. Agora o que é bastante tradição pra eles comer é "Christmas pudding" e um bolo que aqui nos EUA é motivo de piada (o bolo que só existe um e ninguém quer e vai passando de casa em casa) chamado Fruit Cake. Eu acho extremamente doce, mas o meu marido adora. Este ano tentei encontrar pra fazer parte da nossa ceia Natalina, mas os outros britânicos da região chegaram primeiro do que eu na loja e não consegui encontrar. Outra coisa que não suporto é o couve de bruxelas cozido. Dá arrepio só de pensar...

CARTÕES DE NATAL
Todo ano fazemos a lista da família e amigos para o qual iremos enviar cartões de Natal. Embora seja um hábito em muito desuso no Brasil, aqui e na Escócia é tradição levada a sério. Este ano eu resolvi fazer os nossos cartões e foi uma experiência ótima. O que me mata de rir é a diferença do que escrevemos dentro dos cartões. Os cartões que o meu marido escreve geralmente ele só coloca Feliz Natal e Feliz Ano Novo com amor e assina. Eu fico pasma. Não tem mensagenzinha de felicitações, votos para o próximo ano... bem simples e prático. Enquanto eu demoro pra escrever 1 cartão, ele já escreveu 10. Já tentei fazer ele escrever algo mais pessoal nos cartões, mas não deu certo, então seguimos com os nossos estilos.

Os conflitos são administrados com bom-humor e aos poucos estamos criando as nossas próprias tradições também. Gosto de decorar a árvore de Natal e um pouco a casa, mas não tem uma data certa, já que segundo ele deveríamos fazer apenas 12 dias antes do Natal, no Brasil eu aprendi que é no dia 6 de dezembro e aqui é quando der na telha, mas muitas famílias já decoram depois do dia de Ação de Graças. Eu amooooo ver as decorações de Natal das casas, então algumas vezes durante a noite, saímos pela vizinhança para olhar as decorações e eles capricham!!! Também vamos à apresentação de Natal da nossa igreja que acontece no começo de dezembro chamado Christmas Spectacular que já deixa a gente com o espírito do Natal. Também gostamos de ir até San Francisco para ver a árvore de Natal no pier 39.  Durante o tempo que estamos juntos, já passamos o Natal em casa, com família, com amigos, viajando... e cada um tem os seus sabores e dissabores, como sempre.

O importante pra mim nesta época é lembrar do nascimento de Jesus e tentar seguir o seu exemplo de humildade, paz e ajudar as pessoas próximas.  Espero que todos tenham um bom Natal e um ano de 2015 cheio de saúde porque com isto a gente consegue correr atrás do resto.

A Bolha do Vale do Silício...

Sempre digo ao meu marido que nós vivemos numa bolha, afinal, as características econômicas, sociais e culturais daqui não dá para comparar com outras regiões da Califórnia, quem dirá dos Estados Unidos.
Às vezes recebo emails de pessoas que querem saber um pouco mais sobre como é a vida aqui, custo de vida, se vale a pena pegar uma passagem e "vir tentar a vida" por aqui. Esta é uma pergunta tão, mas tão difícil de responder... depende de tanta coisa, depende tanto da pessoa, do que ela quer, de como vive, de como consegue se adaptar...
O que sempre digo é que a realidade aqui não é tão cor-de-rosa como as pessoas pintam. A televisão brasileira ainda vende demais o sonho americano, que infelizmente, tem morrido até mesmo para muitos americanos. E é preciso tomar muito cuidado com o que se lê por aí na internet e do "amigo do tio do primo do vizinho do meu cunhado", porque existem pessoas bem sucedidas aqui sim, brasileiros que encontraram o seu lugarzinho ao Sol possuem uma boa vida, mas muita gente esconde a realidade dura de se viver aqui e só "compartilha" nas redes sociais o glamour de sábado à noite, ou aquela viagem maneira que fez depois de ter trabalhado quase 80 horas em 3 empregos diferentes pra poder pagar o aluguel do quarto compartilhado com mais 8 pessoas. Pessoalmente conheci uma menina que passou fome, mas dizia para a família e para os amigos no Brasil que estava tudo bem, e as fotos da página dela mostravam uma vida que era longe de ser a verdadadeira...
Não mato os sonhos de ninguém. Pra mim impossível é uma palavra que a gente impõe pra nós mesmos, ou então colocamos como desculpa para não correr atrás de um sonho. Pra muita gente, eu estar aqui hoje era algo impossível. Não foi algo que aconteceu do dia para noite também, tive que passar os meus perrengues para chegar onde cheguei e sou grata a Deus pelas oportunidades e pelas decisões que tomei - muitas vezes contra a maré - pois todas juntas foram importantes para chegar onde cheguei.
Achei interessante que dois canais de notícias esta semana mostraram uma realidade pouco conhecida daqui. A crescente população de moradores de ruas. E ao contrário do que se imagina, estas pessoas não são pobres coitados, ou bêbados ou drogados, são trabalhadores assalariados em sua grande maioria, pessoas que ainda trabalham mas não conseguem pagar os preços rídiculos dos aluguéis daqui...
Uma coisa que tem aumentado muito são as pessoas pedintes, sabe aquelas pessoas que páram no farol para pedir alguma coisa, segura uma plaquinha? Pois é... eu achei que nunca veria estas coisas por aqui, afinal estou em um país do primeiro mundo, no lugar mais rico do país e mesmo assim a realidade é bem outra...
Por isto, se você quer tentar a vida por aqui pesquise muito, muito mesmo.... planeje-se, guarde dinheiro... a qualidade de vida aqui é boa, mas a vida não é fácil, nem para os americanos quem dirá para os imigrantes que precisam começar do zero?
Abaixo as duas reportagens em português sobre o desmantelamento de um acampamento sem-teto em San Jose, o coração do Vale do Silício

Reportagem 1 sobre o desmantelamento do acampamento sem-teto em San Jose
Reportagem com vídeo sobre acampamento de sem-tetos em San Jose


São Paulo...

Então nos encontramos novamente. Fazia apenas 1 ano e meio que tínhamos nos visto, depois de longos anos separadas.
Em minha memória haviam doces lembranças da época em que fazíamos parte da vida uma da outra. Dividimos tudo até os meus 25 anos de idade, quando parti. Saí dela, mas ela não saiu de mim. Para onde fui levei comigo o que aprendi passeando por suas ruas, sempre com um olhar desconfiado e um passo apressado. O céu cinza nunca me incomodou. Nunca tinha reparado no seu forte cheiro de gasolina misturado com poeira. O trânsito, sua marca registrada, nunca me preocupou ou irritou. A violência tão presente nos noticiários, nunca impediu que saísse de casa.
Mas São Paulo mudou. Ou será que fui eu que mudei tanto assim?
Tudo pareceu mais caótico, mais cheio, mais triste, mais cinza.
Pela primeira vez, me senti perdida mesmo passando por ruas tão familiares.
Era tanto barulho, tanta gente que mal conseguia escutar os meus pensamentos e o meu coração.
Senti-me solitária, senti vontade de voltar pra casa. E foi aí que percebi, que aquele não era mais o meu lar. Fui tratada como estranha na minha própria cidade. E tudo isto doeu demais.
Acho que São Paulo também sentiu a mesma dor, a dor da nossa separação... porque quando nos despedimos choveu sem parar...